Nos anos 1950, havia um grupo de estudantes aqui da cidade que gostava muito de bailes.
Aos sábados, os amigos pegavam o trem e se deslocavam para as cidades da nossa região para dançar. Matão, Dobrada, Fernando Prestes, Cândido Rodrigues e Catanduva eram os locais preferidos da galera.
Certa vez, foram a um baile em Santa Adélia. O bailão estava muito animado. Um dos jovens, como dizia a gíria naquela época, “descolou” uma garota. E, para “fazer uma presença” para a moça, acabou gastando até o dinheiro da viagem de volta.
Terminado o baile, a rapaziada desceu rapidamente para a estação ferroviária.
– E agora? – perguntou o garotão que gastara toda a grana com a gatinha de Santa Adélia. – Não tenho um centavo no bolso. Como vou fazer para chegar em casa?
Os outros também estavam na pindaíba (pindaíba: junção de mbinda, “miséria”, e uaíba, “feia” (da língua quimbundo, falada em Angola), e significa estar na mais completa miséria, segundo Nei Lopes, estudioso de línguas africanas) e nada podiam fazer para ajudar o companheiro. Mas um deles teve uma ideia:
– Ninguém vai comprar passagens. Embarcamos no trem e vamos ten-tar viajar sem pagar.
Dentro dos vagões, os moços iam se escondendo do guarda como podiam. Uns foram para o banheiro, outros se enfiaram no refeitório, e assim seguiam viagem.
Estavam chegando a Cândido Rodrigues quando o guarda pegou os espertinhos no flagra.
– Tentando viajar sem pagar, hein! – gritou o homem, muito irritado. – Em que cidade vocês moram?
Todos gritaram de uma só vez:
– Somos de Matão, senhor. Por favor, deixe a gente voltar para casa.
– Ah, é! Pois vocês vão descer em Taquaritinga e papo encerrado.
O trem mal acabara de encostar na estação e os jovens saltaram na plataforma. Felizes, abraçaram-se na maior algazarra. O guarda olhava atentamente para o pessoal e não conseguia entender o motivo de tan-ta felicidade.
Quando a locomotiva apitou para dar a partida, os gaiatos acenaram pa-ra o homem e, em coro, gritaram:
– Obrigado, seu guarda, não se esqueça de nos trazer o troco das passagens no sábado que vem.
Seu Hamilton me contou essa história. Disse também que a molecada foi muito esperta. Se dissessem que eram de Taquaritinga, o vigia do trem os teria obrigado desembarcar em Cândido Rodrigues.
Angelim é cabeleireiro, e gosta de ouvir e contar “causos”
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