terça-feira, 15 de março de 2011

Fracassa o neoudenismo de José Serra

É estranha a trajetória do PSDB. Fundado no final da década de 1980 por dissidentes do PMDB, contrariados com a cúpula de então, liderada, à época, por Orestes Quércia, aglutinou políticos como Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves, e se apresentou como partido moderno, pregava o equilíbrio entre o bem-estar social e as leis do mercado.
As coisas começaram a mudar com Collor, parte da agremiação, com FHC à frente, quis desembarcar no governo, o que foi vetado por Covas. Na gestão Itamar Franco, os tucanos passaram a comandar a Administração, aliando-se ao PFL (hoje DEM) e se afastando da raiz social-democrata. Covas resistiu, manteve equidistância dos liberais, assimilou as “mensagens” enviadas por FHC (que lhe tirou o Banespa) e se adaptou ao cenário. Sabia que a História lhe reservava lugar de destaque – elegeu-se governador de São Paulo e passou a construir seu projeto. Com a morte prematura de Covas, o PSDB foi se transformando numa força conservadora.
Alguns tucanos pensaram que poderiam “controlar” o PFL, mas sucumbiram ao poderio dos aliados. O projeto pefelista se sobrepôs ao tucano e o partido fechou os olhos às táticas “pouco democráticas” dos novos parceiros. Com apoio da grande mídia, aderiu à tática de manipular informações e fez das acusações sem provas uma prática eleitoral. Foi assim que FHC mudou a Constituição para conseguir mais um mandato, cujo final foi desastroso. A ascensão de Serra fez com que o partido insistisse nessa direção; com Geraldo Alckmin à frente, aprofundou-se o conservadorismo.
Nas eleições de 2010, Serra esteve de volta. Diante do cenário adverso, o ex-governador não hesitou em utilizar injúrias contra adversários, chantagens com aliados e intimidação do eleitorado.
Nenhuma novidade. No período pós-guerra, o aglomerado partidário liderado pela UDN (União Democrática Nacional) do carioca Carlos Lacerda já havia levado esse método ao limite, responsável pela morte de Getúlio Vargas em 1954 e pela queda de João Goulart dez anos depois. Os udenistas não tinham afeição ao processo democrático e não se constrangiam em utilizar formas espúrias de buscar o poder. O vale-tudo dos conchavos e conspirações resultou em tragédia: mesmo compactuando com o golpe de Estado de 1964, Lacerda e seus seguidores acabaram cassados e perseguidos pelos próprios militares que apoiaram.
O PSDB parece não ter aprendido as lições da História. Serra é personalista, centralizador, impõe suas diretrizes unilateralmente. Incentivado por parte da imprensa, abraçou as características da antiga UDN e fez uma campanha difamatória, agressiva, moralista e raivosa. Desdenhou da realidade e preferiu pregar o medo em vez da esperança. Fracassou: a acachapante derrota por mais de 12 milhões de votos de diferença não deixou dúvida quanto à preferência do eleitorado.
Esse ideário “golpista” faz com que o PSDB corra o risco de desmantelar-se (como está se desmantelando o DEM), a não ser que retome as origens democráticas. O destino da social-democracia brasileira estará, daqui em diante, nas mãos de Aécio Neves, que, aparentemente, tem tudo para se consagrar como novo líder, com condições de promover o diálogo e desistir do enfrentamento, como ensinou Mário Covas.
Cabe ao ex-governador e senador por Minas Gerais fazer a escolha certa, se afastar dos reacionários que infestam as cúpulas de partidos conservadores e as redações dos jornalões e reconstruir a social-democracia brasileira. Caso contrário, sucumbirá, como sucumbiram Lacerda, Serra e os adeptos do neoudenismo!
LUÍS JOSÉ BASSOLI

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