segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Filosofemos, senhores, filosofemos

A filosofia no Brasil perdeu o rumo. Caminha aos tropeços, sem eira nem beira, desorientada, por um atalho que não a levará a lugar algum. Imaginemo-la uma flecha, disparada por um arco trincado, nas mãos vacilantes de um arqueiro amador, míope e bêbado. A seta de bambu podre balança no espaço, leve, desviada pela força do vento da direção de um alvo inexistente. Ah! O tédio infinito dos cafés filosóficos da TV Cultura! Abobrinhas ditas e ouvidas com semblantes compenetrados. Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem.
Antes os nossos filósofos usavam e abusavam das abstrações sem sentido, dando-nos uma imagem enganosa da realidade. Em seus ensaios (que se pretendiam sérios), em seus textos empolados (cujo brilho advinha de uma leve camada de verniz pretensamente acadêmico) as palavras soavam solenes, envoltas por uma aura de falsa sacralidade. Não passavam de sons ocos, paridos pelo vibrar inexato do bronze de um sino trincado.
Os pensadores tupiniquins nada mais faziam senão encenar o papel de exóticos Kant despatriados, dançando ao redor de fogueiras acesas à noite, nas tabas carnavalescamente selvagens ao sul do Equador. Pobres Ideias platônicas, metamorfosea- das em folclóricos fundamentos de sistemas cosmológicos sem pés nem cabeça.
Nossos filósofos diplomados alçaram-se à exata altura de suas pernas de pau improvisadas, apêndices circenses. Acrófobos, com o bom senso abalado pela vertigem, tropicaram nos próprios calcanhares. Recordam-se os amigos leitores do que a vovó dizia? “Quanto maior a altura, maior é o tombo.” E eles viviam, egocêntricos e olímpicos, com a cabeça nas nuvens...
Ultimamente os Nietzsche de fachada preferem seguir as orientações de um novo mapa, de viés mercadológico, rumo à fantástica ilha do tesouro. Comprazem-se em bancarem os psicólogos de botequim. Abandonaram as grandes questões existen- ciais e começaram a escrever livros de autoajuda. Está ai o Gabriel Chalita que não me deixa mentir. Suas “obras” filosóficas açucaradas têm a profundidade intelectual de um pires de xícara de café. No entanto, cumpriu-se a profecia. O galã de cativante discurso católico foi eleito deputado federal.
Os boçais, fracos de espírito, quando expostos à influência da propaganda eleitoral são incapazes de resistirem à compulsão de votar em um Clodovil, Tiririca, Enéas ou Chalita.
Donde se conclui que se Tinky Winky, Dipsy, Laa-Laa e Po (os Teletubbie) saíssem candidatos, os eleitores brasileiros os elegeriam deputado, senador, governador e presidente da República, respectivamente. Una cosa de loco!
A filosofia empobreceu. Descambou ladeira abaixo no irracionalismo textual das “pílulas de otimismo”.
Cavalheiros, ouçam Albert Camus, envergonhem-se e salvem suas almas enquanto há tempo: “Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não ser vivida, é responder à questão fundamental da filosofia”. O resto é silêncio...
PROF. GILBERTO TANNUS

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