quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

NJ ENCONTRA NO HAVAÍ ARTISTAS ESTRANGEIROS QUE FIZERAM PAINÉIS DA MATRIZ

NILTON MORSELLI

Uma reportagem especial publicada pelo Nosso Jornal relatou a passagem dos artistas plásticos Eva e Americo Makk por Taquaritinga. Em 1961, o casal ilustrou as paredes internas da Igreja de São Sebastião, Matriz da única paróquia da cidade na época. Informava a matéria que a pintora Emília Assumpção Fucci, que conviveu intensamente com eles, há mais de dez anos perdera o contato. Cumprindo seu papel de resguardar a história do município, o jornal conseguiu encontrar Eva e Americo, vivos e com saúde, no Havaí.
Por telefone, os pintores concederam entrevista ao NJ. Durante mais de meia hora, contaram sobre a vida no Brasil, a mudança para os EUA, o sucesso no trabalho e os planos para o futuro. A fala fluente e em português correto mostra a cultura que ambos adquiriram em viagens a inúmeros países. Os Makk ressaltaram a saudade dos amigos e prometeram: em razão da entrevista, querem incluir Taquaritinga no roteiro da viagem que pretendem fazer ao Brasil. (Como fiz a reportagem em 2005, não sei se a viagem de fato aconteceu. Prometo telefonar de novo.)
“Que maravilha essa tecnologia, vocês encontraram a gente aqui. Em primeiro lugar, estou muito grata por se lembrarem de nós”, disse Eva, que se refere às facilidades da internet. Pela página virtual dos Estúdios Makk, a reportagem pôde marcar a entrevista e obter o número do telefone. A conversa aconteceu numa tarde de quarta-feira – 17h em Taquaritinga e 10h em Honolulu, capital havaiana. Antes mesmo de responder à primeira pergunta, Eva quis notícias do cônego Lourenço Cavallini e de José e Emília Fucci. Revelou sua tristeza ao ser informada de que o religioso e o cirurgião-dentista já haviam morrido. Depois, pediu o telefone de Emília Fucci.
Americo, de 77 anos, nasceu em Pannonhalma Gyor, na Hungria. Eva não revela a idade. Ao contrário do que registrava a história da Matriz, ela, apesar de ter origem familiar húngara, nasceu na Etiópia. “Nós nos conhecemos em Roma, em 1948, nos museus de arte sacra”, contou o pintor, que na época tinha 22 anos. Veio para o Brasil acompanhando a família da namorada, com quem se casaria em 1951, em São Paulo. Foi na capital paulista que nasceu o primeiro filho, Americo Bartholomeu Makk, que também se tornaria artista plástico. Lá, o jovem casal ilustrou os vitrais de uma igreja no bairro do Ipiranga.
O menino, com menos de 10 anos, assistiu aos pais realizarem o trabalho na Matriz, a pedido do cônego Cavallini, dirigente da paróquia. De dezembro de 1960 a meados do ano seguinte, os pintores estrangeiros elaboraram dez painéis, oito contando a história de São Sebastião. No interior paulista, realizaram trabalhos nas cidades de São José do Rio Pardo, Jaú, Taquaritinga e São Carlos. O convite para decorar a Capela Episcopal de São Carlos surgiu depois que Dom Ruy Serra, bispo da época, visitou as obras da Matriz, em abril de 1961.
No ano seguinte, Eva e Americo foram para Nova York, onde permaneceram até 1967. Quase voltaram para o solo brasileiro, mas mudaram de ideia ao receber a notícia de que a situação não andava boa, com a ditadura militar instalada três anos antes. A troca de Estado dentro do território americano deu certo. No Havaí, os Makk viveram a fase mais produtiva da carreira. Os três artistas da família têm quadros espalhados pelas principais galerias dos EUA. Uma simples busca na internet pode comprovar.

Convivência – Quando aportaram na cidade, Eva, Americo dormiram algumas noites numa Kombi, estacionada na praça da Matriz. Com eles vivia o filho, que tinha o mesmo nome do pai, recorda a artista plástica Emília Fucci. “Os desenhos eram feitos de madrugada. Eles fechavam a igreja, faziam andaimes de 20 metros e pintavam”, rememora. A convivência com sua família foi intensa, já que Eva e Americo usavam o laboratório de José Fucci para revelar as fotografias com as quais executavam a técnica empregada na pintura, uma novidade para a época.

Presidentes – Outro fato mostra o sucesso alcançado pelos pintores: Americo produziu, sob encomenda, retratos de Jimmy Carter e Ronald Reagan, ex-presidentes dos EUA. “Em 1984, Reagan abriu uma exceção e nos recebeu no Salão Oval da Casa Branca, quando fomos entregar o quadro. Lá, ele só recebia políticos e estadistas”, orgulha-se o artista. Eva, que começou a pintar aos 4 anos, cita uma exposição realizada no Senado americano como mais um reconhecimento do talento da família. A vida e a arte dos Makk estão registradas em um livro de 256 páginas, onde são reproduzidos 195 trabalhos, entre telas, retratos e painéis.
A artista define o estilo das telas produzidas pela família como arte regressiva, uma fusão das técnicas clássica e futurista. “Tivemos influência francesa, húngara e italiana. Essa combinação fez sucesso”, ela enfatiza. O casal passou por diversos países da América Latina e da África, conhece toda a Europa e a maior parte dos Estados americanos. A vocação de viajantes os faz planejar uma volta à terra onde nasceu o menino que se tornaria A.B. Makk, como assina suas telas.
“Ainda trabalhamos. Temos muita saúde, disposição, sonhos. Ainda vamos fazer grandes obras”, entusiasma-se a falante Eva, informando que uma exposição dos Makk percorrerá a Europa neste ano. “Em Taquaritinga tivemos muito carinho e aconchego, dos Fucci, do padre Cavallini e outros amigos. Os brasileiros são uma gente muito amável”, completa a pintora. Antes da despedida, pontuada por palavras que revelam o prazer de viver, a pintora convidou o repórter para passar uma temporada no Havaí, “para conhecer as praias maravilhosas”. Se conseguir conversar novamente com eles, vou perguntar se o convite continua em pé.

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