segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fuscão preto ou Brasília amarela?

Em uma de suas composições musicais Roberto Carlos expressou o desejo de sair pelas ruas buzinando um calhambeque. Simplesmente. Nem mais, nem menos. À época seria o bastante, ponderava o rei, para atrair a atenção dos “brotinhos” que perambulavam pelas calçadas, de botas de couro e minissaia. Era “uma brasa, mora!”.
Se então o “broto” topasse a parada, bastaria entrar em seu carro que, pelas curvas de Santos, com certeza, ela o conheceria melhor.
Agora, remédio eficiente para aquietar a angústia de um amor não correspondido, era um só: a alta velocidade. Por isso, Roberto Carlos pisava fundo no acelerador e voava pelas estradas a 120... 150... 200 km por hora. A justificativa para todas estas infrações de trânsito? Ele fugia. Mas, de quê, afinal? Ora, dele mesmo, do passado, de seu mundo assombrado, da tristeza, da incerteza, e, finalmente, da pessoa amada. Voava, voava pela vida, sem querer chegar.
Os amigos leitores já pensaram alguma vez na quantidade de letras referentes a carros, velocidade, etc, criadas até o momento pelos nossos compositores? Somá-las? Como? Até uma calculadora eletrônica de última geração perderia a conta. Lembram-se do Fuscão Preto? Recordam-se da Brasília Amarela? E a coisa por aí vai.
Contudo, por que estamos falando de automóveis? Elementar, meu caro Watson! Tentaremos aqui, neste espaço, analisarmos a situação do trânsito em nossa cidade. Nas ruas de Taquaritinga, tal qual nas de outros municípios, motoristas e pedestres convivem com um problema que – admitamos – não tem solução: o aumento extraordinário do número de veículos. Estou sendo pessimista? Realista, apenas. Querem provas do que afirmamos de maneira tão categórica? Apresenta-las-emos. (Gostaram do “apresenta-las-emos”? É do balaco baco, né! Machado de Assis deve estar se revirando na tumba). Senhores, observem o trânsito nas ruas do centro nas manhãs de sábado. Uma enxurrada? Um rio? Um mar? Não! Um oceano de automóveis flui pela Rua do Comércio – lenta correnteza de aço e motores. Motoristas impacientes por escapar da morosidade asfixiante da fila que parece se arrastar; pedestres tentando atravessar a rua, esquivando-se dos carros, escapando por um triz da motocicleta que surgiu do nada, costurando pelos estreitos corredores formados pela justaposição caótica dos carros.
Exigem mais provas de que o trânsito é um problema sem solução? Ainda não tratamos do nó górdio da falta de vagas nos estacionamentos. As da Área Azul ficam completamente tomadas e encontrá-las nas ruas próximas à Prudente de Morais, Campos Sales, etc., é um trabalho de Hércules. Mais fácil estrangular o Leão de Neméia, matar a Hidra de Lerna, enfrentar o gigante Gerion, por exemplo, do que conseguir uma vaga nas imediações do centro da cidade.
Há quem veja nesse aumento do número de veículos não um problema, e sim um sinal positivo do crescimento da economia do município. Desdigo-lhes, sem medo de errar. A causa relaciona-se ao boom de vendas de automóveis zero quilômetro no período em que o valor do IPI foi reduzido. Neguinho comprou carro adoidado. Mas esta é outra história.
Gilberto Tannus é mestre em História pela Unesp

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