segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Providências sem efeito

Causaram surpresa duas medidas tomadas em Taquaritinga recentemente. A primeira proibiu a realização do chamado open bar, sistema de festa que libera o consumo de bebidas mediante o pagamento do ingresso. A outra determina o fechamento de bares às 22h. Apesar da boa vontade (e, como diz o ditado, “de boa vontade o inferno está cheio”), foram dois atos inócuos para o fim a que se destinaram: reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas.
Não é mudando a forma como se serve a bebida no balcão que uma pessoa vai se embriagar mais ou menos. É a velha história de trocar seis por meia dúzia. Diante da lei, criminalizou-se a Festa da Cerveja, promovida pelo Lions Clube, uma tradição de 40 anos. Para viabilizá-la, será necessário vender no caixa cada dose de bebida consumida no evento, uma vez que a legislação também previne contra formas de driblar a determinação.
Como já informou o Nosso Jornal, o fechamento de bares às 22h também é uma medida sem sentido numa cidade como Taquaritinga. Esse tipo de providência, vista em municípios maiores, é voltado a conter a violência, o que não é o caso. Mesmo se fosse o caso, a própria legislação municipal “joga contra”: bares registrados também como lanchonetes ou sorveterias podem seguir o horário estipulado em outra lei.
Uma carta apócrifa circula pela internet fazendo críticas a ambas as decisões. O autor chega a afirmar que “Taquaritinga vive um momento crítico de sua história”, com restrições à liberdade, referindo-se inclusive a um improvável “toque de recolher”, que seria discutido neste ano. Na verdade, não é nada disso que se deve temer. O que realmente preocupa – e precisa ser revisto pelas autoridades – é a ineficiência dessas medidas para a finalidade a que se propuseram.
Chega-se à segunda década do século da educação e do conhecimento, e ainda se vê o provincianismo a imperar. Proibir não é a solução, e já faz tempo. O único caminho a trilhar é o da orientação, do diálogo. Lei nenhuma tem o condão de substituir o papel da família e da escola. Hoje, um adolescente de 15 anos tem pelo menos o dobro de informações do que um jovem de 25 que viveu na década passada. Se de fato Taquaritinga deseja enfrentar o problema da dependência química, deve seguir por caminhos eficazes. Campanhas e programas educativos e o investimento maciço no esporte e na cultura são apenas algumas dessas sutilezas capazes de tocar o coração da juventude.
EDITORIAL DE 15 DE JANEIRO DE 2011

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