segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cidade perde moradores ilustres


Professor Oswaldo Lacerda
Os taquaritinguenses se despediram nesta semana do professor e diretor de escola Oswaldo de Andrade Lacerda, que morreu na terça-feira (25), aos 91 anos. Casado há 66 com a oficial de cartório aposentada Wanda Orlandi, ele era pai da escritora Luzia Lacerda, mulher de Augusto Nunes, presidente do NJ e jornalista da revista “Veja” e da TV Cultura.
O professor Oswaldo estava internado havia alguns dias na Santa Casa de Taquaritinga. Seu corpo foi velado até as 10h de quarta-feira (26), em Taquaritinga, e depois em Jurupema, distrito em que nasceu e foi sepultado, no final da tarde.
Transferido para a sede do município como diretor escolar, jamais abandonou suas raízes, como destacou Augusto, ao discursar para amigos e parentes que acompanharam o cortejo.
Com o nome de Jurema, o povoado ganhou o status de distrito de paz em 3 de agosto de 1912, sete anos antes do nascimento de Oswaldo – em 3 de dezembro de 1919. Foi dele a iniciativa de trocar a denominação para Jurupema, oficializada em 30 de novembro de 1944.
Nesse ano, no dia 24 de setembro, o professor Oswaldo casou-se com dona Wanda, que trabalhava no Cartório de Jurupema, cujo proprietário era seu pai, Antonino Cassiano. Viveram juntos – e felizes – durante quase sete décadas, sempre recebendo a atenção e o carinho da única filha, que mora em São Paulo mas que vem constantemente a Taquaritinga e estava a seu lado e da mãe no momento da morte.
“Mais que vizinhos, somos amigos”, observou o advogado Wilson Angotti, dono da casa quase colada à dos Lacerda, na Rua Carlos Gomes. Ele e a mulher, a professora aposentada Iraci, ficaram muito comovidos com o falecimento do professor.
Dona Rima Franco foi educadora na Escola Prof. Amando de Castro Lima, no centro da cidade, no tempo em que Oswaldo a dirigia, na década de 1960. “Ele era um bom diretor, nos favorecia, sempre estava ao nosso lado. O Oswaldo se aposentou no Amando”, contou.
O auditor fiscal aposentado Éssio Filla estudou no Grupo Escolar de Jurupema e lembra com exatidão do homem enérgico e sempre disposto a transmitir regras que serviriam para a vida toda. “Chegava de gravata, com um livro e um jornal debaixo do braço. Perfilados, os alunos ouviam uma palestrinha do diretor e cantavam o Hino Na-cional todos os dias.”
Quando um aluno não ia bem, Oswaldo chamava os pais para uma conversa. “Mesmo depois que íamos estudar em Taquaritinga, ele continua gostando da gente. Quando encontrava um aluno na rua, dizia para nunca parar de estudar”, contou seu Éssio. Junto com Aparecida Manoel, também foi professor de catecismo, na Igreja de Santo Antonio.
Com a presença do prefeito Paulo Delgado (DEM), do ex-prefeito Milton Nadir e de numerosos amigos, o sepultamento foi marcado pela emoção. Depois de falar um pouco sobre a vida do sogro, Augusto Nunes anunciou uma homenagem da Banda Verdi e Gomes, formada no distrito com a colaboração do professor Oswaldo Lacerda. O músico Antonio Dian executou no piston o Toque de Silêncio. Gracinda Barroso Orlandi, cunhada de Wanda, também rendeu sua homenagem, cantando o Toque do Silêncio.

Missa – A família convida para a missa do 7.º Dia, que será celebrada na quinta-feira (3), às 19h, na Igreja Matriz de São Sebastião.

DISCURSO DE AUGUSTO NUNES EM HOMENAGEM AO PROF.
OSWALDO LACERDA

Quero despedir-me das muitas facetas, todas
admiráveis, que compuseram a figura sin-
gularmente extraordinária do professor Oswaldo Lacerda. Em nome da dona Wanda, da Luzia, da Bárbara, da Branca, de todos os parentes e em meu próprio nome, começo por lembrar o grande chefe de família que o destino transformou em meu sogro. Fui acolhido como um filho. E convivi com um homem que amava profundamente todos os seus. Ele soube preservar o núcleo familiar também por ter sido sempre devotado a valores que, embora desdenhados por tantos no Brasil de hoje, são eternos. Oswaldo Lacerda foi sobretudo um homem honrado, um homem justo, um homem de bem.
Em nome dos brasileiros decentes, despeço-me de uma figura rara. São poucos os que completam 91 anos de vida e mantêm a consciência tranquila nos 10 minutos terríveis que precedem o sono. Em nome de Taquaritinga, quero despedir-me do vicentino que sempre pensou nos pobres, que vivia coletando dinheiro anonimamente. Damos adeus a um cristão exemplar, ao homem bom que sempre cuidou com carinho da sua cidade.
Em nome dos jurupemenses, despeço-me de alguém que amou Jurupema profundamente. Cito de memória versos do poeta português Fernando Pessoa que ajudam a entender a alma do professor Oswaldo Lacerda: O Tejo é o rio mais belo do mundo,/mas não é o mais belo que o rio que passa na minha terra/porque o Tejo não é o rio que passa na minha terra.
O professor Oswaldo era assim. Ele certamente achava que alguma cidade era a mais bela do mundo. Talvez o Rio de Janeiro. Mas o Rio não era mais belo que Jurupema porque o Rio não era Jurupema. Ele viveu pensando na vila em que nasceu. Jurupema deve ao professor Oswaldo Lacerda, por exemplo, o velório. Também lhe deve a estrada pavimentada que meu pai começou a construir e meu irmão Tato concluiu.
Ele podia ter o que quisesse do meu pai, Adail Nunes da Silva, que foi companheiro de Tiro de Guerra e foi seu amigo pelo resto da vida. Mas nunca quis nada para ele próprio. Eu soube hoje pelo meu amigo Tarzan que o professor Lacerda foi indicado pelos vereadores para cuidar da educação municipal. Meu pai preveniu que o convite seria recusado, mas sugeriu que os vereadores tentassem convencê-lo a aceitar. Meu sogro foi ao gabinete do prefeito, disse o que deveria ser feito na área da educação e explicou que não poderia aceitar o cargo porque tinha laços de parentesco com meu pai.
Enfim, em nome de todos os que tiveram o privilégio de conviver com o professor Lacerda, despeço-me do educador. Não existe profissão mais bela. Oswaldo Lacerda educou centenas de crianças, orientou dezenas de professores, ensinou a todos a arte de viver. Coube-me o privilégio de, durante 30 anos, ter meu sogro como segundo pai e professor. Por tudo isso, não temos motivos para tristeza. Não estamos lamentando uma morte. O que aqui termina é uma aula magna de vida que durou 91 anos. O mestre voltou, agora em definitivo, para descansar em Jurupema.
Descansa em casa. Descansa em paz.

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