segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A nova Batalha de Itararé

Não teve choro nem vela. Policiais e soldados do exército subiram os morros das favelas do Rio de Janeiro e expulsaram, com facilidade, os traficantes. Macuco no embornal: as forças da lei avançaram e os criminosos, esbaforidos, escafederam-se, abandonando seus postos, drogas, armas e munições. Ratos de um navio naufragando não fugiriam mais rapidamente. Presenciamos cenas vergonhosas: meliantes aos tropeços, em desabalada carreira, buscando outro buraco para esconderem-se. Enfiaram-se no mato, sem deixarem rastros, tão velozes seus pés deslocavam-se sobre a poeira da estrada.
Quem te viu e quem te vê! Nas imagens dos noticiários ou em filmes amadores rodados em seus bailes funks, esses “indivíduos” brandiam metralhadoras, disparavam para o alto, passando-nos uma outra impressão. Neles enxergávamos combatentes destemidos, decididos a tudo – ou a pelo menos darem a vida em defesa de seu território. (Até um vira-lata, pulguento e coberto de sarna, urina em muros e postes, marcando seu “espaço vital”, alertando os invasores da presença de um macho pronto para brigar por algo que julga pertencer-lhe. Ocorre, porém, que nas favelas cariocas só havia mijões.)
Ora, senhores, nunca lhes faltou coragem para atemorizar os humildes moradores do local, que tentavam viver suas insignificantes existências sem incomodar ninguém – fazendo-se de sombras, deslizando furtivamente pelas ruas estreitas, por entre barracos caindo aos pedaços; nunca lhes faltou coragem para prender, julgar e executar jornalistas que procuravam revelar ao Brasil decente as barbaridades perpetradas pelos chefões do tráfico; nunca lhes faltou coragem para carbonizarem seus desafetos nas fogueiras do “micro-ondas”, feito com pneus velhos.
O que jamais esperávamos é que essa virtude guerreira desaparecesse de suas veias tão logo se defrontassem com policiais e soldados treinados para um combate de igual para igual. Tipo assim, olho no olho, mano... De um lado os bandidos entrincheirados, tendo a vantagem de visualizarem o inimigo do alto, acompanhando seus movimentos e estudando uma estratégia defensiva; de outro, os policiais e soldados deslocando-se lentamente, expondo-se à mira dos francoatiradores, sem poderem responder ao fogo inimigo, temerosos em ferirem civis. E o que aconteceu? Uma nova batalha de Itararé! Explico-lhes, leitores. Durante a Revolução de 1930, a batalha de Itararé foi vastamente propagada pela imprensa. Ela ocorreria entre as tropas fiéis a Washington Luis e as da Aliança Liberal que, sob o comando de Vargas, vinham do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder. A cidade de Itararé fica na divisa de São Paulo com o Paraná, mas antes que houvesse a batalha “mais sangrenta da América do Sul”, fizeram-se acordos e tudo terminou em pizza. Uma junta assumiu o governo da capital e não houve nenhum conflito. Com a fuga desesperada dos traficantes, a “guerra” nas favelas cariocas foi ou não foi uma batalha de Itararé?
PROF. GILBERTO TANNUS

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