segunda-feira, 1 de novembro de 2010

FUNDAÇÃO EDMILSON

Criada há quatro anos, a instituição desenvolveu a própria metodologia de trabalho e vem transformando a vida de crianças e adolescentes da periferia de Taquaritinga

Há dois anos, quando ingressou na Fundação Edmilson, Adrieli Samara Paravani diz que era bem diferente. “Não conversava com ninguém, tinha poucos amigos”, não se envergonha de contar a falante jovem de 15 anos, que já tem suas convicções. “Quero ser fisioterapeuta”, responde sem demora à pergunta sobre seu futuro profissional. “Acha que esse sonho é possível?”, insiste o repórter. “Tenho certeza que sim”, devolve Adrieli, a primeira de três irmãos. Estudante da Escola 9 de Julho, ela mora com a família na Vila Romana, bairro próximo à instituição.
Semear sonhos e plantar uma nova realidade para o futuro de cidadãos de sua cidade natal é o objetivo do jogador Edmilson Gomes de Morais, criador e principal mantenedor da fundação. Localizada na entrada do Jardim São Sebastião, onde o atleta passou a infância e a adolescência, a instituição é a extensão da escola – e da própria casa – para centenas de taquaritinguenses.
A estrutura é imensa. Quase tudo acontece no prédio de 1.860 m2, encravado em área de 13 mil m2, que concentra: biblioteca (aberta à comunidade), salas de música, de balé, de informática, de judô, da brinquedoteca, uma do Programa Educação para o Trabalho (PET), uma destinada aos cursos profissionalizantes ministrados pelo Serviço Nacional do Comércio (Senac); e duas para estudos e tarefas escolares. Ainda tem o refeitório, a quadra poliesportiva, o campo de futebol e o anfiteatro.
Para dar conta de tudo, há 23 pessoas contratadas, mais 20 estagiários e cerca de 10 voluntários. É fácil medir o alcance social da fundação, basta citar que ela atende 300 estudantes de 6 a 14 anos; 70 de 14 a 18 anos, no PET; 22 de 14 a 20 anos, matriculados no Programa Aprendizagem (aquele em parceria com o Senac); 30 pessoas no curso de culinária; e 22 meninas no time de futebol feminino. “Temos uma lista de espera de 400 crianças”, contou a coordenadora de projetos, a pedagoga Juliana Volpi Nogueira Faria.
Para tentar uma vaga, a família precisa preencher um formulário socioeconômico e esperar a visita de um representante da entidade, quando uma nova pesquisa é feita para comprovar as informações. Por enquanto, em razão do grande número de crianças na fila, as inscrições estão fechadas, “para não criar expectativa”, ressalta Juliana.

Integração familiar – Para garantir o máximo rendimento nos programas oferecidos, a participação da família é uma exigência de que não se abre mão. “O estudante deve ter algo em torno de 100% de frequência na escola e tirar boas notas para permanecer”, diz o coordenador administrativo, Wagmar Ricardo. A boa notícia é que essas metas estão sendo atingidas, sinal de que os alunos se esforçam para melhorar o desempenho em sala de aula e não perder a vaga.
Segundo ele, em menos de quatro anos de existência, já são muitos os casos dignos de comemoração. Jovens que passaram pelos programas profissionalizantes já estão empregados no comércio, como é o caso de Flávio Simplício, ou ingressaram na faculdade. Flávio e outros quatro colegas egressos da instituição trabalham na Casa Fucci (leia texto abaixo).
O programa educacional funciona das 8h às 12h e das 13h às 17h. Nos fins de semana, as portas se abrem para aulas de informática voltadas a 50 pessoas da comunidade. À noite, o prédio é utilizado para duas atividades: o curso de culinária, em que um grupo se reúne para aprender uma receita, e os encontros da rede social que se formou com a finalidade de promover melhorias no bairro. O trabalho da rede é desenvolver ações capazes de mudar a realidade da comunidade.
As mudanças já se fazem sentir na vida das pessoas. Antes de concretizar o sonho de cursar fisioterapia, a estudante Adrieli ocupa o tempo livre com informática e praticando atletismo na entidade. Assim como ela, outras pessoas constroem não apenas o próprio destino, mas mudam o futuro de toda uma coletividade.
NILTON MORSELLI e NATALIA GALATI


“O PET foi uma ponte para eu chegar
até o meu primeiro emprego registrado”

A felicidade está estampada no rosto de Flávio Antonio Simplício, de 20 anos, cujo futuro a Fundação Edmilson ajudou a traçar. “Eu não fazia outra coisa: era da escola para a casa e de casa para a escola”, afirma o jovem. Na época, ele estudava na Escola Carmela Morano Previdelli, no Jardim Santa Cruz.
Em 2007, Flávio foi convidado por um amigo para participar do Programa de Educação para o Trabalho (PET), na Fundação Edmilson, que foi criado para apoiar atividades acadêmicas que integram ensino e pesquisa. Mesmo com a distância para ir à instituição, lá se foram seis meses de aprendizado até chegar na etapa do estágio, quando permaneceu por sete dias na rede de lojas de calçados Casa Fucci.
“Eu não tinha noção de nada, pois tinha apenas 17 anos. O PET foi uma ponte para eu chegar até o meu primeiro emprego com carteira assinada”, contou Flávio, que diz agradecer a oportunidade todos os dias.
Feliz da vida, hoje ele é gerente de estoque das duas lojas Casa Fucci de Taquaritinga e mais a de Monte Alto e a de Olímpia, há três anos. “Para mim, foi um aprendizado. Nunca é bastante para aprender. Se não fosse pela fundação, talvez eu não estaria aqui como estou hoje”, ressalta.
Para ele, a Fundação Edmilson é uma entidade criada em Taquaritinga para o bem de todos. “Temos que mantê-la com muito carinho, pois o trabalho realizado lá é muito interessante. Jamais ela pode se acabar”, completa Flávio.

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