terça-feira, 9 de novembro de 2010

Canções para os olhos, a mente e os ouvidos

Corectasia: “Dilatação da pupila”.
Esse é o nome – apropriado – do primeiro CD do Kau Andrighetto: a metáfora dos olhos bem abertos às mais diferentes vertentes musicais, o caminho livre, escancarado, para o novo; as nuances sinestésicas e as sutilezas estéticas a serem dilatadas, amplificadas.
O autor nasceu em Taquaritinga/SP em 1970. A música sempre fez parte de sua vida, a mãe, Betí, exímia pianista, o inspirou com seu dedilhar desde que estava no útero – e o incentivou incondicionalmente. O então menino optou, primeiro, pelo violão e, depois, se apaixonou pela guitarra. Passava horas assistindo aos vídeos e escutando os discos dos ícones do instrumento (Jimi Hendrix, Joe Satriani, Steve Ray Vougan, B.B. King, André Cristovão, Edgar Scandurra) e não perdia a oportunidade de se prostrar atrás dos palcos do primeiro “ídolo”, o conterrâneo Ziquito, guitarrista de primeira linha, ex-integrante do The Jordans e de outras bandas (tocou com Roberto Carlos no auge da Jovem Guarda).
Nos anos 1980, a efervescência do rock nacional o levou a se aventurar em grupos cujos repertórios baseavam-se em clássicos do rock’n’ roll, blues e reggae, empunhando sua guitarra com ímpeto juvenil em bares, bailes, shows e festivais, com destaque para o Decreto-Lei – o quinteto formado também pelo Ico Pagliuso (baixo), Leguei Pilon (vocal e teclado), Manzo (bateria), Guilherme Basso (guitarra) e Liminha (vocal) foi grande sucesso, com uma agenda repleta (chegou a se apresentar em são Paulo e participar de um CD independente). Já nessa época, sua prioridade era expor composições próprias, sonho adiado por divergências internas. Na década seguinte, morou em São Paulo, Marília e São Carlos, onde se graduou na área da Computação pela UFSCar. Para se aperfeiçoar, tomou aulas com os mestres guitarristas Índio, em São Paulo, e Fernando Izé, em São Carlos. Técnico em Contabilidade (formado pelo Colégio Dr. Aimone Salerno de Taquaritinga), inicia o século 21 trabalhando como Contador no escritório da família, até se dedicar exclusivamente à música.
Com a experiência adquirida, passou a compor – letra e música – regularmente e nada escapou de sua curiosidade: Arte, História, Geopolítica, Ecologia, e estudou a correlação da Matemática (que passou a dominar na universidade) com a música instrumental. Faz tempo que toca sua Fender (e sua Ibanez) todo dia, montou um pequeno estúdio em casa – com a aquiescência da musa e companheira Marlene – e adotou uma rotina de trabalho, passa horas a criar, apurar a técnica, “exercitar” os dedos até que os acordes se instalem no “cerebelo”.
O caminho trilhado o conduziu à arte pela arte. Da construção ra-cional às relações amorosas; da consciência política às observações do dia-a-dia; das divagações filosóficas às canções de protesto; do beatnik anárquico aos temas infantis; da crônica social ao cristianismo filosófico; das poesias lúdicas à valorização da família e dos amigos, o autor criou um mosaico único, uma obra consistente e prazerosa. Ouso identificar algumas influências: o rock norte-americano, inglês e brasileiro; os clássicos; Tropicália; Mutantes; Novos Baianos; Clube da Esquina; movimento punk; o mangue-beat – e não ficou imune às refinadas afinações dos violeiros caipiras. Tudo centrifugado num peculiar processo criativo. Roqueiro por natureza, não hesitou em transitar por múltiplos estilos. O CD é a síntese dessa trajetória.
Enfrentou as dificuldades técnicas e, com os (limitados) recursos que tinha à mão, tornou o projeto uma realidade. Kau é um artista talentoso, sincero, sua melodia soa bem aos ouvidos, nos remete aos mais profundos prazeres sonoros; as letras elaboradas estimulam nosso pensar, os assuntos que aborda nos induzem à reflexão.
É aumentar o volume e deixar-se invadir pelos sons, palavras, frases, solos de guitarra, ritmos e pensamentos – emaranhados numa sofisticada harmonia. A mente se incumbirá de processar as emoções.
Com vocês, Corectasia, de Kau Andrighetto!
LUISINHO BASSOLI

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