segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um mergulho na vida de Cândido Portinari

Grupo visita a casa onde o artista viveu, que foi
transformada em museu


Na manhã de terça-feira (13), o Ponto de Cultura Portidançando APM - Etam Santa Cecília levou um grupo de 36 pessoas para visitar o Museu Casa de Portinari, em Brodowski, cidade onde nasceu o famoso pintor, a 15 minutos de Ribeirão Preto. A reportagem do Nosso Jornal esteve presente.
O museu fica na casa onde Cândido Portinari viveu com os pais e os irmãos. Como a casa ainda mantém a estrutura original, os móveis e utensílios da época prevalecem com uma impressão de voltar no tempo. Em 1970, a casa foi transformada em museu que é dividida em duas vertentes: a biográfica e a artística.
Do lado biográfico, podemos ter uma boa noção da trajetória de Portinari com a ajuda de textos, documentos e objetos de uso pessoal. Do lado artístico, o acervo é constituído de trabalhos em pintura mural, com técnicas de afresco e têmpera e de conteúdo predominantemente sacro. É interessante notar ainda a evolução dos trabalhos do artista, de como ele moldou o seu estilo único e inconfundível.
O pintor nasceu no dia 30 de dezembro de 1903 numa fazenda de café em Brodowski. Filhos de imigrantes italianos, de origem humilde, recebeu apenas a instrução primária e desde pequeno, Candinho, como era chamado pela família, já manifestava sua vocação artística. Ele era o segundo dos doze filhos de Baptista Portinari e Domingas Torquato.
A casa onde Portinari viveu tem um projeto de labirinto, porque a família ia construindo os cômodos sem pensar na estrutura. Eles residiram nela até 1966. Três obras na casa foram mudadas de lugar porque ficavam na parte externa. Elas foram recortadas e colocadas na sala principal. As obras são de 1935: cabeça de mulata I, cabeça de mulata II e o perfil da avó. A primeira obra que ele pintou em sua residência foi São Francisco Pregando aos Pássaros e a última foi na sala de recepção, em 1943, em que ele pintou São Jorge e o Dragão.
A sala principal possui um aparelho de jantar em louça japonesa que foi um presente que o pintor trouxe da Europa para a mãe. Um dos lugares que a família passava o maior tempo era na cozinha e o prato preferido pelos italianos era a polenta, tudo feito no fogão a lenha.
Seus pais, quando vieram ao Brasil para trabalhar, começaram a empalhar cadeiras, e Candinho ajudava seu pai que na época tinha uma loja de móveis. Além disso, seu pai era músico, chegou a montar uma banda que tocava na praça. Baptista Portinari tocava o instrumento de sopro bombardino.
Para o pedreiro Armando Queluz, de 72 anos, lembrar de Cândido Portinari é recordar de uma Brodowski que não existe mais. “Minha mãe trabalhou para a família, ela era a responsável pela casa. Enquanto era terra na frente da casa dele, brincava-se de papagaio, pião. Eu me recordo muito bem dele”, contou.
Armando diz que gosta muito de cultura. “É uma terapia, a gente aprende muito e eu cresci perto de Portinari. Morávamos perto um do outro, ele era uma pessoa muito especial”, recordou.
A grande sala principal, cozinha, banheiros e o quarto do artista permanecem com suas funções e utilizações originais, com seus respectivos móveis. Cama, roupas, acessórios, é possível ser visto tudo de perto.
Um dos lugares da residência que o artista mais gostava era o seu ateliê, em cômodo especialmente adaptado com a instalação de uma claraboia para permitir a entrada de luz natural. É possível ver de perto seus objetos de trabalho, como: pincéis, tintas, paletas, carvão, espátulas, telas, cavaletes, entre outros. “É aqui que Portinari mais gostava de ficar e refletia para sair as obras maravilhosas que ele fazia”, explicou a monitora-guia, Karen Aline.
Uma das maiores surpresas da visita ao Museu Casa de Portinari está nos jardins da casa, onde se encontra a Capela da Nonna. Portinari a mandou construir em 1941 para sua avó doente que era muito religiosa, mas que estava impossibilitada de ir à igreja. Nessa capela, o artista executou pinturas murais representando figuras bíblicas com fisionomia de pessoas da família e amigos. São Pedro tem o rosto do pai de Portinari e Santa Luzia, o rosto de sua irmã. As pinturas na capela, de cores muito fortes, causam um grande impacto no visitante e remetem aos antigos mestres renascentistas, que Portinari tanto admirava. A primeira missa na capela foi celebrada pelo padre Francisco Siino, no dia 1.º de março de 1941 com a presença do artista.
Para Elisângela de Fátima Confortini, que participou do passeio, a Capela da Nonna foi o destaque. “Eu gostei de tudo, mas da capela em especial. As pinturas são mais vivas. Mas é tudo lindo de verdade, é legal ter um museu como esse tão perto da nossa cidade, vale muito a pena ir visitá-lo”, completou.
Portinari tinha 1,54m de altura e nasceu com uma deficiência na perna. Tem apenas uma irmã viva que mora no Rio de Janeiro, dona Olga com 90 anos. Em 1960, um novo ser veio povoar a vida do artista: a pequena Denise, filha de seu único filho João Cândido, que ele passou a cantar em prosa e em verso. Ele conheceu a única neta, que hoje tem 50 anos de idade, deliciou-se com seus primeiros passos e suas primeiras palavras.
Em Batatais, existem ainda 23 pinturas de Portinari na Igreja Matriz do Bom Jesus da Cana Verde. Os 14 quadros da Via Sacra são de uma beleza e simplicidade únicas.
Cândido Portinari morreu no dia 6 de fevereiro de 1962, quando preparava uma grande exposição de cerca de 200 obras a convite da Prefeitura de Milão, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava.

Artista morou em Paris por 2 anos
“Portinari é considerado o maior artista plástico de todos os tempos. Ele era um pintor moderno. O que nós temos de mais importante no museu são as pinturas que ele fazia diretamente na parede”, contou a gerente-geral do museu, Cristiane Patrici. Ela ainda completou que há dois anos o museu foi eleito como a primeira maravilha da região de Ribeirão Preto.
Aos 15 anos de idade, Candinho foi para o Rio de Janeiro estudar pintura na Escola Nacional de Belas-Artes. Já em 1928 conquistou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, da Exposição Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica. Permaneceu morando em Paris por dois anos, retornando ao Brasil em 1931. Lá ele teve contato com outros artistas como Van Dongen e Othon Friez, além de conhecer Maria Martinelli, uma uruguaia de 19 anos com quem o artista passaria o resto de sua vida.
Seu período fora do país parece ter lhe servido de grande inspiração: passou a retratar nas suas obras o povo brasileiro, a nossa cultura, registrando em suas obras um caráter inovador e moderno.
Mas nem só na pintura Portinari fez história. Chegou o tempo de escolher outros caminhos – o lado político. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e candidatou-se a deputado em 1945 e a senador em 1947, mas não se elegeu.
Candido Portinari fez parte de uma fase de grande mudança no conceito estético e cultural do Brasil. Seu trabalho teve muita repercussão e reconhecimento fora do país. Ele pintou cerca de cinco mil obras, de pequenos esboços a gigantescos murais. Além disso, pintou quadros belíssimos e com vários temas. Entre as obras espalhadas, o pintor deixou no Estado de São Paulo 823 obras e no Rio de Janeiro 3.182.
Em suas obras é possível encontrar muitos quadros relacionados à infância, quando ele retrata diversas brincadeiras infantis. Mais que simples nostalgia, o olhar rural do artista se destaca pela “deformação” de mãos e pés de seus personagens.
NATALIA GALATI

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