O Delegadinho

O professor Sérgio Augusto Sant’Anna, amigo e grande conhecedor da língua portuguesa, em sua coluna, “Cultura em Destaque”, elogiou os artigos que tenho publicado aqui no Nosso Jornal. Valeu, Sérgio. Vamos para mais um acontecimento.
É sobre um cidadão que viveu por muito tempo em nossa cidade. Antonio Pereira Boava, que todos chamavam carinhosamente de Delegado ou Delegadinho. Desde os anos 40, tornou-se um homem muito popular e amigo de todos. Era portador de distúrbios mentais e gostava de Carnaval. Andava por toda a cidade, mas o lugar que mais frequentou em sua vida foi o bairro Farwest, onde sempre morou.
Em 1960, o Delegadinho ganhou uma velha farda militar de presente – boné, calça, camisa, botas, cacetete e um apito. Tomou uns golinhos e apareceu todo fardado lá no bairro.
Justamente no horário em que os caminhões subiam a Rua General Osório carregados de algodão e amen-doim para descarregar na máquina do Elias F. de Melo, que ficava em frente à fábrica do Guaraná Ideal naquela época. Nosso personagem subiu em cima da tampa do bueiro, gesticulava, apitava e, com a mão erguida, dava sinal para os motoristas pararem.
A fila foi aumentando, as pessoas que passavam foram parando e morriam de rir da bagunça que o Delegado estava aprontando. Naquele momento, passava por ali uma viatura da Polícia Militar. Vendo todo aquele alvoroço, os soldados pararam para ver o que estava acontecendo. Até os policiais acharam graça de ver aquela cena.
Os militares o tiraram dali e liberaram a fila para os caminhões seguirem viagem. Apesar de sua deficiência, era uma criatura pacata, inofensiva e querida por todos em nossa cidade. O Neto Abbud e o seu falecido pai, seu Antonio, conseguiram aposentá-lo e deram todo apoio àquela boníssima alma, até o seu falecimento, na década de 90.
Muita gente ainda se lembra do dia em que o Delegado parou o trânsito na Rua General Osório, no bairro Farwest.
Ângelo Bartholomeu é cabeleireiro – e gosta de ouvir e contar causos
Publicado no Nosso Jornal em 9 de julho de 2010