segunda-feira, 14 de junho de 2010

Otavinho, o toureiro valente



Havia, na Rua Siqueira Campos, esquina com a Clineu Braga de Magalhães, próximo ao cemitério, um grande terreno.
Ali se instalavam parques de diversão, circos e touradas. Em 1963, estava armado naquele local o conhecido Circo Rodeio Paulista. Suas montarias eram famosas, o proprietário oferecia grandes prêmios, o que chamava a atenção dos peões de todo o interior.
Em uma noite de sábado o circo estava lotado. Antes do rodeio profissional, fizeram uma preliminar para os toureiros amadores se divertirem.
Soltaram na arena uma novilha que era uma verdadeira fera. O animal tinha os chifres pequenos e afiados, que furavam mais que peixeira de baiano. Um grupo de jovens estava na arena para desafiá-la. A vaca não estava para brincadeira, distribuía cabeçadas, coices e chifradas para todos os lados, colocando os desafiantes todos para correr.
O locutor, muito gozador, dizia:
– Será que não existe nenhum homem de coragem para enfrentar essa rês.
Otavinho era um alogoano morador lá para as bandas do Farwest. Estava bem mamadão, e não gostou da conversa do narrador. Levantou-se da arquibancada, e com seu arrastado sotaque nordestino, gritou:
– Vô pegá esse bichinho à unha e mostrá que alagoano é cabra macho, sim sinhô.
Os aplausos da plateia o deixaram ainda mais corajoso. Quando entrou na arena, o animal não perdeu tempo e partiu para o ataque. Deu-lhe várias cabeçadas que o jogavam violentamente contra o solo. Quando conseguiu ficar em pé, tentou correr, mas a vaca aplicou-lhe uma tremenda chifrada no traseiro que quase o deixou pregado no alambrado. Os seguranças foram em sua defesa e o tiraram dali. O circo quase veio abaixo: o público riu até não querer mais. O locutor mexeu novamente com o rapaz, perguntando se ele não queria tentar outra vez.
O nordestino, que já estava até curado da bebedeira tamanho foi o susto, irritado, respondeu:
– Vô, não! Essa peste tá virada do diabo, nem o cão pode com esse bicho.
Depois disso, o Otávio foi alvo de gozação.
Os amigos o apelidaram de Cigano, nome de um famoso tou- reiro brasileiro naquela época.
ÂNGELO BARTHOLOMEU
Publicado no Nosso Jornal em 12 de junho de 2010

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