segunda-feira, 29 de agosto de 2011

ACONTECEU NA CIDADE

O mendigo e o barbeiro inexperiente

Em 1960, ainda menino, fui trabalhar como office boy no salão de barbeiro do seu Carmelo Paccelo. A barbearia ficava naquela porta que existe ao lado do Hotel Central, na então Praça 9 de julho, hoje denominada de Dr. Horácio Ramalho.
Carmelo era palmeirense de coração e excelente profissional. Pai do Arialdo, da Maria da Penha e do falecido goleiro Paulo. O estabelecimento tinha uma grande e selecionada freguesia, era também muito frequentado pelos políticos da cidade que lá iam para bater papo e analisar a conduta dos governantes daquela época.
Por esse motivo, o salão tinha o apelido de Senadinho. Ali passei momentos felizes da minha infância e adolescência.
Certo dia, chegou ao Senadinho um andarilho, que foi logo dizendo:
– Estou com a barba muito comprida e não tenho dinheiro. Alguém poderia tirá-la para mim?
Seu Carmelo disse para mim:
– Você precisa aprender. Vá lá e atenda o cidadão.
O homem sentou-se na cadeira. Passei a mão em uma máquina manual e comecei a empreitada. Como não tinha prática, um pouco a dita cuja cortava, outro tanto a danada ia arrancando tudo, e o homem se retorcia todo na cadeira. Quando terminou o serviço, o mendigo estava molhadinho de suor.
– Quando precisar, volte aqui novamente que o garoto lhe atende – antecipou-se o dono do salão.
O andante mais que depressa retrucou:
– Esse moleque me operou sem anestesia, arrancou minha barba com a raiz e tudo. Acho que ela nunca mais vai nascer, Deus me livre!
Dizendo isso, passou a mão no velho e surrado saco de roupas e escafedeu-se rapidamente entre as árvores do jardim.
Seu Carmelo foi para mim um grande amigo, pessoa de um bondoso coração. Eu o estimava como se fosse meu próprio pai.
P.S. Nem de helicóptero o andarilho passou mais por perto do salão Senadinho do Carmelo Paccelo.

ÂNGELO BARTHOLOMEU, o Angelim, é cabeleireiro, e gosta de ouvir e contar “causos”

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