sexta-feira, 8 de abril de 2011

Jovens, caiam fora!

Janeiro próximo completo 50 anos. Há exatos 30 ministro aulas, em escolas públicas, particulares, cursinhos e faculdades. Acredito, portanto, por estas três décadas dedicadas ao magistério, trabalhando de manhã, tarde e noite, 12, 14 horas por dia, ter ao menos o direito de expressar minha opinião sobre a “nobre missão de ensinar”. (Opinião, ok? OPINIÃO. Os burraldos compreenderam bem? Opinião cada um tem a sua e estamos conversados. Isto posto, continuo.) Hoje a “nobre missão de ensinar” é uma belíssima porcaria. Aos jovens que iniciarão uma carreira no mercado de trabalho e que pensam seguir o magistério, aqui fica um conselho de uma pessoa que fala de cátedra: caiam fora! Não embarquem nesta canoa que ela está furada. E não se trata de um furo só não, meus caríssimos leitores. São incontáveis os furos. Tanto é verdade que não seria nenhum exagero afirmarmos que a Educação no Brasil navega sobre uma peneira. Navega ou afunda? Afunda.
No Estado de São Paulo a situação vai de mal a pior. O governo nada faz de sério para melhorá-la e a APEOESP, sindicato que diz representar o professorado, idem. Aliás, dentro mesmo da APEOESP, algumas correntes ditas “dissidentes” acusam sua diretoria de só se mexer em época de eleição, propondo greves e paralisações absurdas com o único intuito de desgastar a imagem do candidato do governo diante dos olhos do eleitorado. Ora, ora, eles, que são gregos, que se entendam. Neste fuzuê sou troiano.
Em reportagem na Folha de S. Paulo, Fábio Takahashi a encimou com a manchete bombástica: “Professor novato desiste de aulas na rede estadual”. E logo nos esclarece: do grupo de cerca de 9.300 docentes aprovados em concurso em 2010, que começaram a lecionar no último dia 10 de fevereiro, dois (frisemos, DOIS!) pedem exoneração todos os dias!
Vejam o que diz Edson Rodrigues da Silva, 31, formado na USP e aprovado no supracitado concurso para ensinar matemática: “Vi que não teria condições de ensinar. Só uma aluna prestou atenção, vários falavam ao celular. E tive de ajudar uma professora a trocar dois pneus do carro, furados pelos estudantes. Se continuasse, entraria em depressão. Não vale passar por isso para ganhar R$ 1.000 por 20 horas na semana”. “A realidade da escola é diferente da mostrada no curso”, disse Gilson Silva, 30, professor de filosofia, que também pediu para sair.
O que pensam disto tudo os especialistas em Educação? Maria Márcia Malavasi, coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, fez as seguintes considerações em entrevista concedida ao repórter Takahashi: “O cenário é triste; especialmente na periferia, os professores encontraram escolas sem estrutura, profissionais mal pagos, amedrontados e desres-peitados”.
A coordenadora Maria Malavasi não mente. Faço minhas suas palavras. “Profissionais mal pagos, amedrontados e desrespeitados”. Mais. Ouso ir além. A maioria dos professores só consegue dar aulas tomando doses cavalares de antidepressivos. Duvidam? Pois bem, atualmente sou um pobre usuário dessas substâncias, indispensáveis aos que labutam no magistério. Reforçando, pois quem avisa amigo é: jovens, se alguém os convidar para exercerem a “nobre arte de ensinar”, caiam fora!
PROF. GILBERTO TANNUS

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