terça-feira, 15 de março de 2011

Vem jardineira, vem meu amor

Adoro Carnaval. Para ficar em casa. Descansando, assistindo TV, jogando xadrez na internet, colocando a leitura em dia (“História da Literatura Ocidental”, 4 volumes, de Otto Maria Carpeaux), dormindo. A chuva forte caindo lá fora, tamborilando na janela do quarto, e eu, debaixo do cobertor, tirando a maior soneca. Quero outra vida?
Quinta-feira volto ao trabalho. Doze horas por dia, sala de aula, história, história e história. Acho que estou precisando aposentar. A tendinite do braço esquerdo dói que é uma coisa de louco, os cabelos não param de cair e de quando em vez um ou outro dente inventa de dar uma fisgadinha, pedindo uma visita ao Dr. Mário Abbud ou ao Dr. Osvaldo Ogata. E já que citei o nome do Dr. Mário, aproveito para cumprimentar o ve-reador Dr. Gefsun Rodrigues Sgarbi por ter lhe concedido, em nome do povo taquaritinguense, o título de honra ao mérito. Dr. Sgarbi, político que prima pela honestidade e integridade de princípios éticos e morais, que dignifica o legislativo municipal, homenageando o Dr. Mário Abbud, exemplo de pai de família, de profissional competente e de cidadão dedicado ao bem de sua comunidade. Assim é que deve ser. Certo, certíssimo. Dois mais dois, igual a quatro. Aplaudamos os que merecem, reconhecendo-lhes o valor.
Falava do Carnaval. Quando adolescente até que arriscava dar uma sambadinha aqui e outra sambadinha ali. Todavia, nunca fui fã dos festejos momísticos. Saía mesmo para encontrar-me com o Manoel José Pires Neto (meu primo Mané, autor de dezenas de livros. Os amigos leitores devem conhecê-lo, pois não?). Tomávamos cerveja a rodo e conversávamos sobre literatura, música popular brasileira (Noel Rosa e quejandos), política, Marx e otras cositas más. Os blocos e carros alegóricos desfilando na rua defronte ao boteco, em meio ao batuque e cantoria, e nós sentados em uma mesa, bebendo e discutindo Beethoven e Dostoievski.
Quando batia a angústia existen-cial, própria da juventude intelectualizada da época, descia até a casa do Dr. Rafael Lofrano. Duas horas da madrugada e eu lá, no portão, chamando o seu Rafael. “Pode entrar, Zé!”, respondia ele, hospitaleiro. Conversávamos animadamente até o amanhecer, sobre religião – eu era ateu e ele espírita –, filosofia, poesia, e língua portuguesa. Sempre saía com um livro emprestado: Kant, Schopenhauer, Nietzche e por aí afora. “Zé”, alertava-me o Dr. Rafael, “você não vai compreender muita coisa lendo as obras desses filósofos. Leve uma Introdução à Filosofia primeiro”. E eu lá queria saber de livros básicos? Rastejar na planície dos conceitos primários? Jamais! Rápido, sem perda de tempo, seguia direto ao topo da montanha. O ar rarefeito e as tempestades de gelo não me assustavam. Ao contrário. Sentia-me intelectualmente desafiado pelas frases complexas de um Kant, pela profundidade abissal das reflexões de Nietzche. O que pegava mesmo era o pessimismo de Schopenhauer. Lembram-se os leitores da supracitada “angústia existencial”? Pois bem, juntem-na com o pessimismo de “O mundo como vontade e representação” e o que teremos? Exatamente! Uma dose depressiva capaz de derrubar um elefante. E ainda tem gente que pergunta por que eu era um cara tão ensimesmado...
PROF. GILBERTO TANNUS

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