segunda-feira, 21 de março de 2011

Um sentido para viver... Qual?

Chega uma fase em nossa existência na qual vem o desencanto. Em relação a tudo, a todos, com as pessoas e o mundo, com nossos sonhos, ideais. Como um manto de chumbo, tal sentimento pesa-nos nos ombros, cansando-nos os passos por um caminho já não tão fácil de ser palmilhado. Os pés, feridos pelas pedras, vacilam e tropeçam. A realidade nos bate no rosto como um tapa de água fria, acordando-nos de uma noite de sono profundo, repleto de pesadelos. Percebemos então naqueles que nos cercam somente hipocrisia, egoísmo e uma preocupação neurótica com a busca de pequenas glórias, vãs e inúteis.
As máscaras caem ou se rasgam, feitas de papelão velho e barato, desnudando nosso rosto aos olhos alheios. Fingíamo-nos de D. Quixote de La Mancha, mas no fundo sempre soubemos não passarem os moinhos de vento de moinhos de vento, e os exércitos contra os quais tão corajosamente investíamos serem apenas porcos, amontoados uns aos outros em meio à lama e restos podres de comida. Nada houve de heróico em nossa jornada, nem de audaz em nossas aventuras. Éramos Sancho Pança apresentando-se como o “cavaleiro da triste figura”. Soávamos falsos, falsos como uma moeda de quinze centavos.
Não há, porém, amargura em nossos corações. Decepções, frustrações, ressentimentos, sim, envenenam-nos a alma. Queimam como ácido gotejando sobre o veludo branco de uma pétala de rosa alabastrina. Contudo, o tédio é tamanho que nenhuma importância damos a estas emoções e sentimentos.
Procuramos um sentido para nossos gestos de carinho, nossos golpes de fúria, nossas palavras de ternura, nossos gritos de indignação e deparamo-nos com o vazio – um abismo profundo, negro, infinito. O nada somado a coisa alguma. Imaginemos: um trem correndo em direção de uma parede de névoa, desaparecendo envolto na brancura fantasmagórica da bruma. Só.
Nas páginas inspiradas de Calderón de la Barca o príncipe Sigismundo nos expõe o caráter ilusório da vida e do mundo, alertando-nos “... que toda la vida és sueño, y los sueños son”. Já o bardo de Avon, o dramaturgo inglês Willian Shakespeare, pôs nos lábios de Macbhet, em um momento de dor, a hoje famosa definição da humana existência: “A vida é só uma sombra: um mau ator que grita e se debate pelo palco, depois é esquecido; é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, e que não significa nada”.
Poderia arrolar aqui uma longa série de textos, discursos e poemas redigidos por centenas de artistas, intelectuais, filósofos, etc, nos dizendo aquilo que uma única frase do Ecle-siastes (2,15) resume: “Mas, quando me pus a considerar todas as obras de minhas mãos e o trabalho ao qual me tinha dado para fazê-las, eis: tudo é vaidade e vento que passa; não há nada de proveitoso debaixo do sol”.
Aos que roubam o próximo, principalmente os políticos brasileiros (a maioria corrupta e venal), apoderando-se daquilo que outros produziram honesta e arduamente, com muito suor no rosto e calos nas mãos, aconselhamos a leitura do Salmos 89,10: “Setenta anos é o total de nossa vida, os mais fortes chegam aos oitenta. A maior parte deles, sofrimento e vaidade, porque o tempo passa depressa e desaparecemos”. E desaparecemos, senhores... e desaparecemos...

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