segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Pode? Pode!

Vivemos a era da permissividade. Os limites foram se estendendo como borracha, elásticos, cedendo cada vez mais, e, finalmente, desapareceram. Pode-se tudo.
Salvo engano, a liberalização geral começou com a “redemocratização”, em meados da década de 1980, no ocaso do governo Figueiredo. A censura caiu por terra. Ulalá!
Sou defensor ferrenho da liberdade de expressão. Liberal neoliberalíssimo. Estou com Voltaire e não abro: “Embora não concorde com uma só palavra do que dizes, defenderei até a morte o teu direito de dizê-las”. Censura à religião, ao direito de ir e vir, etc., só existe mesmo em ditaduras militares e em regimes comunistas. Cuba, China, Coreia do Norte. Seus monarcas não largam o osso do poder nem a pau. E atiram ao cárcere aqueles que divergem de seus pontos de vista. Vovó Gertrudes filosofava, enquanto fazia as bolachinhas em forma de lua, de estrela, para os netos: “O que seria do amarelo se todos gostassem do azul!” Expunha a anciã, em linguagem popular, a ideia de que no mundo há espaço para todas as opiniões. Só que em Cuba o carniceiro Fidel Castro gosta apenas do vermelho (sangue) e fuzila os que ousam apreciar outras cores. No horizonte da “ilha presídio”, há meio século, não se contempla a magia policromática do arco-íris.
Os partidos de esquerda não sabem conviver com a democracia, a diversidade de pontos de vista, a divergência ideológica. Só eles conhecem a “verdade histórica” – seja lá o que isso for. Lula ficou louquinho babando, tentando cercear a liberdade dos meios de comunicação. Lembram-se? Lembram-se uma ova. O brasileiro tem memória curta. Curtíssima.
Retomando o fio da meada. Vivemos a era da permissividade. Sem recatos e sem pudores. As letras das músicas cantadas pelo povão provam que se fizermos um teste de QI, a maioria dessa plebe ignara não passaria dos 30 pontos. Vejamos a “evolução” do monstrengo: Éguinha pocotó, Dako é bom, Tô ficando atoladinha, Bicicletinha. E por aí afora. E abaixo.
Programas de TV? Ratinho retornou ao horário nobre, com exames de DNA, tombos do humorista (?) Marquito e demais boçalidades; a Globo insiste nessa porcaria chamada BBB, assistida por milhões de pessoas que precisam urgentemente amadurecer, aprender a usar o tempo em coisas sérias, adultas; nos demais canais, religião, religião e religião. A toda hora, de segunda a domingo, o mesmo blábláblá, idêntica lengalenga, o lero-lero de sempre, que já encheu até a paciência infinita do bom Deus. Comentaristas de futebol repetindo besteiras, papagaiando horas e horas um lance “polêmico”, a contratação de jogadores, atuação de árbitros, etc. Esse pessoal ainda não acordou para a realidade nua e crua: o futebol brasileiro está falido. Os bons jogadores atuam nos gramados europeus. Quando estão para aposentar, não conseguindo mais acompanhar o ritmo acelerado dos jogos italianos, espanhóis, alemães, voltam à boa terrinha das palmeiras, onde canta o sabiá. Vide Ronaldo, Roberto Carlos, Ronaldinho. Aconselhamos os times brasileiros a contratarem médicos geriatras imediatamente. Os artilheiros da quarta idade agradecem.
Gilberto Tannus é mestre em História pela Unesp

Nenhum comentário:

Postar um comentário