segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ico Curti reúne em livro contos bem-humorados


Professor, funcionário público federal, ex-vereador e observador das coisas de Taquaritinga. Antonio Fernando Almeida Curti, o Ico, agora também é escritor. Ou melhor, já era escritor. Só não havia publicado seus textos em forma de livro. No fim de 2010, resolveu aliviar-se desse pecado, compartilhando histórias que reuniu em “Contos contidos”, impresso na TAG Gráfica e Editora.
O bom humor e a serenidade, que são marcas registradas de Ico no cotidiano, estão em alto relevo nos 30 textos da obra. E é exatamente do dia a dia que ele retirou algumas situações relatadas, como na hilária cena reproduzida na coluna ao lado. Mas também há diálogos creditados à inventividade, prerrogativa indispensável a todo escritor, e à memória do Ico menino e do Ico adolescente.
A vontade de publicar o livro aumentou depois que o taquaritinguense venceu a edição 2008 do Prêmio Literário Cidade de Porto Seguro, com a crônica “Meu melhor amigo”, sobre seu cachorro. No ano passado, circulou o livro referente ao concurso, cujo título é o mesmo da história vitoriosa. Mas essa não foi a primeira investida de Ico no mundo literário. Ele é detentor da Medalha de Participação Especial no I Concurso Nacional de Literatura Arti-Manhas e do 5º lugar no XXV Concurso Internacional Literário promovido pelas Edições AG, em 2008.
Com os dois filhos (Luiz e Beatriz) formados e empregados, Ico vive feliz ao lado da esposa, Teca, irmã do jornalista Luiz Gonzaga Mineiro, diretor de jornalismo do SBT, que escreveu o prefácio. O autor doou a primeira impressão para algumas instituições beneficentes da cidade, que ficarão com o dinheiro dos exemplares que conseguirem vender. Como ser escritor ainda é uma novidade na vida de Ico, de vez em quando acontece algum imprevisto, como acabar a tinta da caneta no meio de uma dedicatória. Da próxima vez, é melhor começar pelo autógrafo.
NILTON MORSELLI

LEIA UM DOS CONTOS
Pegadinha ou “fu fiu”
O rancho na beira do rio era do pai dele, mas quando sobrava um fim de semana o Arakém pegava a turminha e ia para lá pescar, ou melhor, churrasquear.
Desta vez foi não foi diferente. Na sexta-feira, quando soube que o velho não ia, correu para avisar a turma.
No dia seguinte acordaram bem cedo (coisa que não faziam nos outros dias da semana) e partiram felizes no fusquinha.
Arakém, Geada, Maurício, Cidão, duas caixas de cerveja, um garrafão de pinga e dez quilos de costela.
Lá chegando, a primeira providência foi botar a cerveja para gelar e acender a churrasqueira. O resto não tinha pressa.
Enquanto a cerveja gelava, o Cidão preparou uma jarra de caipirinha.
Foi a conta certa.
Cerveja gelada, carne assando, era só alegria.
A certa altura o Cidão, que não estava acostumado a acordar cedo, resolveu dar um cochilo na rede armada na varanda. A turma continuou conversando animada, até que o Maurício viu uma cobrinha na grama em frente ao rancho.
Alertados, os valentes caçadores se dirigiram até a coitada e, depois de umas vinte pauladas, conseguiram abater o perigoso ofídio.
Em seguida, o Arakém teve a brilhante ideia.
Pegou a cobrinha, enrolou cuidadosamente e colocou no peito do Cidão, sem esquecer de um detalhe: colocar a cabeça virada para sua cara.
Feito isso, continuaram a animada conversa.
Depois de algum tempo, o Cidão acordou e se deparou com aquela situação.
Muito assustado, mas sem poder se mexer, resolveu assobiar para chamar a atenção de seus amigos.
“Fu fiu”, fazia o Cidão insistentemente, sem que eles se dessem conta.
Na verdade, hoje se sabe que eles fingiam que não ouviam. Estava tudo combinado, embora o Maurício e o Geada neguem por questões de segurança.
Depois de uns bons quinze minutos com o Cidão suando frio e quase sem fôlego de tanto assobiar: “Fu fiu, fu fiu, fu fiu...”, o Arakém resolveu olhar.
O Cidão, que já estava quase perdendo a esperança, disfarçadamente fazia sinal com o dedo indicador, braço fora da rede, apontando a cobra.
Arakém demonstrou um grande espanto e, também, como se para não assustar a serpente, fez final com a mão que o Cidão aguardasse.
Feito isso, foi para dentro do rancho, voltando em alguns segundos com uma espingarda cartucheira e apontou para a cobra, ou seja, para o peito do Cidão, que apavorado assobiava: “Fu fiu” e com o dedo fazia sinal de não desesperadamente.
Dizem que naquele dia o Cidão jurou que isso não ia ficar assim.
Se teve o troco ainda não sei, mas quando souber, prometo que te conto.
ICO CURTI

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