segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ainda somos os mesmos

Não sei quando começou nem quando acabou. Mais ou menos, começou no final dos anos 1980 e se estendeu por anos, sei que não chegou ao século 21, isso é certo. O dia era o último, 31 de dezembro; o local, a chácara do Fabinho; o evento, um futebolzinho, com o João Milton de um lado e o Righetto de outro, e, de preferência, o Cecéu no time de um e o Fabinho no do outro. O restante, nosotros, íamos sendo escolhidos até que completasse sete por equipe, goleiros inclusos. Se ficasse um (ou dois) de fora, dava-se um jeito de acomodar todo mundo. Nunca era o mesmo time, todo ano mesclavam-se os jogadores, observando, apenas, a separação do João Milton do Riguetto e, se possível, do Cecéu do Fabinho. Jamais soubemos o ranking, não há registro de quem ganhou mais, o resultado não importava.
Não era incomum sair discussões, à beira das vias de fato – que nunca ocorreu, diga- se –, e bons jogos. Igualmente, não raro os jogos eram horríveis, de baixíssimo nível, e, tantas vezes, pura gozação. Muita cerveja, aliás, a maioria já bebia antes da partida, o copo à margem do gramado. Finda a peleja, o churrasco a unir os amigos; os afetos interpessoais escancarados; a alegria incontida; o desejo, sincero, de um ano melhor para cada um dos presentes. A vaidade deixada de lado; as desavenças do ano prestes a terminar terminavam antes do término do ano; as declarações de amor declamadas a plenos pulmões! Abraços, beijos, afagos, estímulos e consolos; o contato físico e emocional; cada vez era a vez deste ou daquele extravasar, se mostrar emotivo – e chorar, se fosse o caso. Predominava o riso, o sorriso, a gargalhada; histórias, causos, piadas. O truco; a trilha sonora a soar dos carros; o sambinha tocado ao vivo. Próximo da meia-noite, nos reuníamos, dentro da piscina, em roda, e, de mãos dadas, rezávamos o pai-nosso – Fabinho, o anfitrião, fazia uma singela declaração, conclamando todos a se esforçarem para fazer do ano vindouro um ano melhor e agradecendo a Deus pelo ano que passou e por estarmos ali, vivos – e juntos!
Não é correta a “acusação” de que formávamos uma “panelinha”. Não, absolutamente! Não tínhamos resistência a novos camaradas, desde que convidados por um de nós. Éramos receptivos e amáveis; era chegar, se entrosar e participar da festa. Certa oportunidade, chegamos no dia 30, pernoitamos e estendemos a celebração pelo dia seguinte. Concordamos que foi exagero, quase perdemos o controle, e, boa decisão, não repetimos a dose – uma tarde/noite era a medida certa.
De repente, não mais que de repente, o tempo passou, as realidades de todos e de cada qual se impuseram às nossas vontades individuais e não mais foi possível organizar o encontro. Todos sentimos, mas não culpamos ninguém, compreendemos, resignamo-nos. É a vida, são as contingências, é assim mesmo, deixa rolar.
E rolou muita coisa. Uns se formaram; outros mudaram de cidade, alguns voltaram, tantos ficaram por onde estavam; vieram filhos, compromissos, carreiras; há quem cuida dos pais; há quem casou, se separou, quem casou de novo, quem não. Há quem ficou rico e há quem nem tanto; há os que seguiram a linha acadêmica, se intelectualizaram; há o patrão e o funcionário; o careta e o maluco; o politizado e o prático; o músico; o que curte o corpo e cuida da saúde, o desencanado a beber e divagar; há!
Fins de 2010, precisamente 28 de dezembro, um reencontro improvável, marcado, sem alarde, dois dias antes, pelo telefone. Simbólico, o lugar escolhido foi no Fabinho, não a chácara, a casa dele. Não compareceram todos, como era de se esperar, porém uma significativa trupe: além do dono da casa, o Turco, Zé Carlos, Niba, Gineba, Waltinho, Cecéu, Depa, Tio, Righetto, João Milton, Faladô, Carlinho, Kau, Valentin – e eu. Novos camaradas, Ricardo e Diego (o Chimbinha), cunhados do Righetto. O Nagib, pai do Turco, passou por lá.
Assistimos a uma gravação de 1988 na Chopperiferia (feita pelo Carlinho, VHS passado para DVD) e parecia que nossa última festa tinha sido no ano passado. Rimos muito, conversamos, discutimos, o sambinha rolou ao vivo, só não jogamos futebol nem truco.
Saímos com a certeza de que ainda somos os mesmos. Ainda bem!
LUÍS JOSÉ BASSOLI

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