segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Se ficar o bicho...

Em artigo anterior escrevi que anularei o voto. Nem Dilma, nem Serra. Ambos não passam de “farinha do mesmo saco” – expressão originária do governo de D. Pedro II, o admirável imperador filósofo. Nada tão igual ao Partido Conservador do que o Partido Liberal, afirmavam os imperiais comentaristas políticos daqueles idos, que vivenciaram o parlamentarismo às avessas. Contemporaneamente é lícito parafrasearmos: nada tão igual ao PT do que o PSDB. O primeiro, constituído majoritariamente por burgueses, finge representar os trabalhadores, ou seja, o “povo”; o segundo, constituído majoritariamente por burgueses, finge representar os trabalhadores, ou seja, o “povo”. No frigir dos ovos, vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da república, sejam do PT, do PSDB, do PTB, do PDT, etc., etc., (Ufa!) e etc. e tal, quando no exercício de seus cargos, representam-se a si próprios e aos seus interesses particularíssimos. Convenhamos: de bobo eles não têm é nada.
Nós, que reclamávamos tanto da ditadura militar e seu bipartidarismo, agora, em plena democracia pluripartidária, transformamos as eleições em um verdadeiro circo. Mambembe. Daqueles de lona velha e remendada, com o leão desdentado e um anão que não pára de crescer. Enfim, um descalabro.
O problema não é a próxima eleição presidencial. O problema, senhores, é o que virá depois dela. Enfrentaremos um período de instabilidade política e social desconhecido pela geração mais nova. Reflitamos. Se Dilma vencer e colocar em prática as idéias radicais apresentadas em seu primeiro projeto de governo registrado no TSE (criação de impostos sobre as grandes fortunas, etc.) a classe média e a classe alta reagirão, implorando para alguém manter a ordem e preservar os direitos “sagrados” relativos à propriedade privada. (Os burguesões que votarão em Dilma compram gato por lebre. Terão uma surpresa desagradável quando acordarem de sua letargia política.) Contudo, se Serra ganhar – aguardem e verão –, o ex-presidente da UNE não conseguirá governar. Os partidos de esquerda não lhe darão trégua nem sossego: organizarão manifestações contra atos governamentais de cunho impopular; as centrais dos trabalhadores farão greves nacionais exigindo aumentos irrealistas de salário para todas as categorias; os congressistas da oposição criarão incontáveis obstáculos para impedir a aprovação de qualquer projeto que, além de beneficiar diretamente o povo, possa trazer alguma popularidade ao presidente Serra, etc.
Podem me chamar de pessimista, porém não vejo perspectivas de normalidade democrática no quadro político que surgirá logo após este conturbado período eleitoral. O governo do próximo presidente não será fácil, seja ele quem for. Estamos na mesma situação desconfortável daquele rato encurralado pelo gato, do famoso dilema: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Os amigos leitores acreditam existir uma terceira opção?
PROF. GILBERTO TANNUS

Um comentário:

  1. Sem dúvida não temos opções razoáveis e quem mais me preocupa é a candidata Dilma Roussef exatamente por não falar o que pensa.O seu programa de governo, já na terceira ou quarta versão, esconde as verdadeiras propostas da candidata. Quanto ao candidato Serra, este já o conhecemos por sua atuação como Ministro, Prefeito e Governador. Quem nele votar saberá em quem estará votando, quanto a Dilma...uma incógnita, e perigosa.

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