segunda-feira, 9 de agosto de 2010

EDITORIAL

Luta inglória

O brasileiro nunca afrontou tanto as leis como agora. O exemplo “vem de cima”, como preceitua uma frase batida, mas sempre verdadeira. As diversas notícias segundo as quais os principais candidatos à Presidência da República (e o próprio presidente Lula) foram multados por fazer propaganda eleitoral antecipada são emblemas dessa triste realidade. Se eles, que deveriam ser defensores da ordem democrática, não se furtam à oportunidade de massacrá-la, imagine o cidadão diante de pequenas infrações.
As “escorregadas” da gente graúda da política nacional se refletem diretamente numa parte da sociedade. Enquanto alguns ficam indignados com tamanha desfaçatez, outros absorvem tais informações como sinal de que tudo é permitido no Brasil sem dono. O mau exemplo na vida pública é antigo e se sucede com desenvoltura nos tempos de agora, haja vista o péssimo conceito de que padecem as mais altas casas legislativas do país. O que não falta é deputado e senador pego com a ficha suja – e ainda piamente crentes de que podem limpá-la a todo custo e a qualquer preço.
O comportamento abominável no andar de cima levou a camada de baixo a achar que também pode tudo, sem nada temer. No entanto, a blindagem que existe lá não se repete cá. Ao contrário do que recomenda a Constituição, os homens não são iguais, nem perante as leis muito menos perante a impunidade. Afrontam-se as leis sem imaginar que, um dia, o castigo virá.
Neste ano, Taquaritinga baterá um recorde de prisões por tráfico de entorpecentes. Todos os dias, dois ou três infelizes são detidos com drogas – pedras de crack, em 95% dos casos. Será que essas pessoas não ficaram sabendo que a polícia fechou o cerco? As sucessivas notícias na imprensa não as fazem pensar duas vezes antes de sair por aí vendendo droga? Agora uma afirmação: apesar de convictas do trabalho eficiente da autoridade, elas continuam pensando que, mesmo pegas, serão livres. Mal sabem elas que a sensação de impunidade não as tornam infensas ao braço do Estado.
Infelizmente, o brasileiro de todas as escalas sociais deixou de temer as leis, o que é muito perigoso. Contra essa maré atávica, a Justiça faz o que pode, mas trava sozinha uma luta inglória. Os legisladores preferem afrouxar, em vez de afinar os mecanismos para que o país seja mais decente.

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