segunda-feira, 10 de maio de 2010

Maria Soares, a parteira que tinha mil afilhados



Antigamente, nascia-se com a ajuda de parteira. Médico era luxo. Nesse contexto, o trabalho de Maria José Calerá Soares foi importante para uma sociedade em que a população rural era preponderante. Os números comprovam: ela fez cerca de três mil partos, segundo a família. Como forma de agradecimento, as mães a convidavam para ser madrinha de batismo, superando assim os mil afilhados – um recorde. O nome de Maria Soares, como ficou conhecida, foi eternizado na Escola Municipal de Educação Infantil da Vila Negri, distrito onde ela passou a maior parte da vida.
A vila ainda se chamava Sapezeiro quando ela nasceu, em 8 de março de 1890. Casou-se com Antonio Soares Estevão, com quem teve três filhos – João, Antonio e Rosa Maria, menina que viveu apenas até os 6 anos de idade. A neta Dulce Aparecida Soares Arnoni se recorda de uma avó sempre feliz, que tinha nas boas ações a principal razão de sua existência.
A parteira nunca cobrava pelos serviços. Tudo o que ganhava era presente de admiradores, entre eles o prefeito Adail Nunes da Silva. O também prefeito e médico Francisco Arêa Leão até concedeu à dona Maria Soares um diploma de parteira, o único da cidade.
Quando era chamada, a cidadã emérita não ligava para distâncias, ia a pé ou a cavalo, sob sol ou chuva, a qualquer hora do dia ou da noite. De maleta em punho, lá ia ela colocar mais uma criança no mundo. Famílias inteiras nasciam sob seus cuidados.
Além de partos, Maria Soares fazia benzimentos, simpatias e tratava ferida de quem a procurava. Cuidava de gente e de bicho também. A surdez que a acompanhou pela vida teria sido sequela de uma picada de urutu que levara em um dos dedos. Depois de ficar viúva, ela foi morar no Asilo São Vicente de Paulo, onde se despediu a 16 de julho de 1985, aos 95 anos, depois de uma vida dedicada à concretização do sonho de milhares de mães taquaritinguenses.
NILTON MORSELLI

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