segunda-feira, 21 de junho de 2010

O fantasma da capela

O senhor Guilherme, morador na Rua Rui Barbosa, é leitor do Nosso Jornal há muito anos. Disse-me que tem gostado das histórias que tenho contado neste semanário. Aproveitando o nosso bate-papo, contou-me um fato que aconteceu em 1953, no qual ele também estava presente. Vamos ao acontecimento: realizavam-se, nos sítios e fazendas, tradicionais bailes, conhecidos na época como arrasta-pés.
Construíam-se, nos terreiros de café, grandes barracas cobertas com encerados ou folhas de coqueiros. Ali, aos sábados, o sanfoneiro puxava o fole e o pessoal dançava até o sol raiar.
Certa vez, um sanfoneiro de São Lourenço do Turvo, considerado um dos melhores naquele tempo, foi animar um bailão na fazenda Diamantina. Sabendo da fama do acordeonista, a região compareceu em peso naquele baile. Vários amigos aqui da cidade estavam se divertindo muito e acabaram perdendo até a condução que os levaria de volta para casa. Sem chance de conseguir outro veículo, resolveram encarar o estradão e a escuridão da madrugada.
Os rapazes botaram o pé na estrada. No caminho, lembraram que tinham de passar bem em frente a uma capela, ali na redondeza, que todos diziam ser mal assombrada. Para o azar da rapaziada, começou a armar o maior tempo de chuva, a coisa começou a ficar cada vez mais feia. Ventania, trovões e raios cortavam a escuridão a todo instante.
Não havia outra alternativa para se proteger do temporal. Resolveram correr e se abrigar na capelinha. O Avelino estava em boas condições físicas, disparou na frente e, antes que os outros soubessem, entrou na capela. Já estava começando a chover quando o resto da turma chegou. Com medo, perguntavam:
– Entramos ou não entramos?
O Avelino gritou lá dentro:
– Podem entrar, tem lugar para todos!
Pensando ser a tal assombração, o bando esqueceu até o temporal e saiu com tudo, rasgando o barro da estrada. O Avelino saiu da capela e gritava para os companheiros: esperem, esperem... Aí o povo corria mais, pensando que o fantasma os seguia. Depois de muito correr (o tempo já havia melhorado), descobriram que a pessoa que os seguia era o amigo Avelino.
O dia já estava clareando quando chegaram à cidade. O seu Guilherme disse que nunca correu tanto em sua vida. Falou também que nem os velozes corredores do Quênia pegariam a rapaziada naquele dia.
Angelim é calereireiro e gosta de ouvir e contar causos
Publicado no Nosso Jornal em 19 de junho de 2010

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