ACONTECEU NA CIDADE

O SALTO DO ORETCHA

ÂNGELO BARTHOLOMEU

João Batista Bruno, meu amigo de grupo escolar, sua esposa, Sueli, e o historiador taquaritinguense Milve Peria não perdem uma só história da série Aconteceu na Cidade.
Encontro-me quase todas as semanas com o Luiz A. Tiveron, lá na padaria Bom Retiro. Tiveron, sempre muito alegre, me pede para falar de um acontecimento ocorrido em nossa juventude em 1968, no Bar e Restaurante Ki-Lanches.
Oretcha era um cachorro andarilho que percorria todos os cantos da cidade, mas o lugar preferido para ficar era nos bares Ki-Lanches, Petisqueira e Rivo, local onde se concentrava a maior parte da juventude daquela época.
Para se ter uma ideia, esses estabelecimentos ficavam nas proximidades do Banco Comercial, onde atualmente é o Itaú. O animal era meio engraçado: comprido, meio baixo e tinha duas enormes orelhas. Por esse motivo, o pessoal o chamava carinhosamente de Oretcha.
O cãozinho era dócil, brincalhão e se tornou uma figura muito popular em nossa cidade. Era o xodó dos estudantes e da molecada em geral.
Todos que por ali passavam paravam para brincar e lhe davam alguma coisa para comer. O Oretcha, em agradecimento, saltava de alegria fazendo a maior festa.
Certa vez cheguei com alguns amigos no bar Ki-Lanches e nos sentamos naqueles bancos de ferro que circundavam o balcão do restaurante. Pedi uma coxinha de frango, e quando fui pegar o vidro com o molho de pimenta, o Oretcha deu um salto espetacular, abocanhou a coxinha de minha mão e a engoliu de uma só vez.
Os fregueses que ali estavam rasgaram o bico de dar risada. Depois do salto, ficou a me contemplar com os seus olhinhos brilhantes e o rabo a balançar, nem um pouco preocupado com a arte que acabara de aprontar.
Pois bem, Luiz, finalmente contei a história que você queria, mas a minha deliciosa coxinha de frango ficou na saudade. Aliás, na saudade não, no estômago do cachorrinho, o inesquecível Oretcha.

Angelim é cabeleireiro, e gosta de ouvir e contar “causos”