segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cuba socialista: 50 anos

Meio século é tempo suficiente para se fazer uma análise isenta do país caribenho, sem a paixão político-ideológica – pró ou contra – que caracterizou o período da Guerra Fria e se estendeu até o final do século 20. Não cabe mais insistir num olhar romântico-revolucionário e tampouco liberal-americanizado.
Cuba não é mais uma ameaça ao sistema capitalista; nem de longe pode ser considerada fonte de inspiração de revoltas mundo afora; deixou, há muito, de fomentar levantes e de treinar guerrilheiros; abandonou, irreversivelmente, a ambição de internacionalizar sua revolução.
Em 1959, Fidel, Raul e Che derrubaram Fulgêncio Baptista, um ditador que mantinha o país na miséria, submisso aos interesses estadunidenses. A economia era absolutamente dependente dos EUA, que compravam toda produção de açúcar (única fonte de renda) e forneciam todo petróleo necessário. Os líderes, de início, não eram socialistas, queriam, apenas, conter o caos vigente e reorganizar a administração. Dois anos depois, de chofre, a Norte-América deixa de comprar o açúcar, interrompe o fornecimento de petróleo e, pior, impõe um embargo comercial, acatado pelos aliados, com raras exceções, como México, Espanha e Argentina.
Isolada, Cuba foi ao colapso: não tinha para quem escoar a produção açucareira e ficou sem petróleo. Foi, então, que veio em seu socorro o “outro império”, a URSS, que tomou o lugar dos EUA, adquirindo o açúcar e entregando o petróleo. O episódio marcante foi a tentativa de invasão do território por exilados residentes em Miami (financiados por Washington), que desembarcaram na região chamada Baía dos Porcos e foram rechaçados pelo exército – e pelo povo – da ilha. Essa agressão foi a gota d’água: Cuba declara o caráter socialista da revolução e se torna um “ícone” para movimentos de esquerda de todo planeta, em especial da América Latina.
O apoio soviético amenizou o bloqueio ianque. O governo revolucionário muda a realidade da nação, acaba com a miséria, estabelece a ordem e obtém invejáveis índices sociais, sobretudo na educação e na saúde. Na política, desenvolve um intrincado sistema eleitoral, que privilegia a participação popular no nível local (comunidades de bairro) antes de se chegar à Assembléia Nacional, que elege o primeiro-ministro (Fidel foi reconduzido ao posto até deixá-lo por conta própria).
No início dos anos 1990, Cuba se vê, novamente, desamparada com o fim da União Soviética. Na sequência, caem quase todos os governos so- cialistas do Leste europeu (Polônia, Tchecoslováquia, Romênia, Bulgária, Hungria, Alemanha Oriental). O socialismo perdurou na Iugoslávia, China, Vietnã, Coreia do Norte. A Iugoslávia se esfacelou numa brutal guerra civil; a Coréia do Norte se militarizou, fez a bomba atômica, se fechou; a China reagiu com violência à mobilização popular da Praça da Paz Celestial (1989), acabou por “encampar” economicamente o Vietnã e se impôs como potência mundial. Cuba foi o único país próximo da ex-URSS a manter sua rotina. Apesar do embargo norte-americano, ampliou o comércio com novos parceiros, como Canadá, China, Rússia, Brasil e Venezuela (que garantiu o abastecimento de petróleo).
No cinquentenário da batalha da Baía dos Porcos, o Partido Comunista Cubano realiza seu mais importante Congresso, com a missão de planejar o futuro. Dentre as reformas, se destacam o limite de dois mandatos para altos cargos e os incentivos à iniciativa privada, uma “transição” ao capitalismo. Fidel deixa, em definitivo, o comando do Partido, abrindo espaço para novas lideranças.
Com cautela, para não desperdiçar os avanços sociais conquistados, a duras penas, nesses 50 anos, uma nova Cuba desponta no horizonte da História.
LUÍS JOSÉ BASSOLI

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