segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Novos velhos tempos

Alguns amigos me criticam – outros elogiam – pelo mesmo motivo: me acham otimista. A maioria dos que elogiam o faz não tanto por acreditar no que digo e mais por “admirar” essa improvável capacidade de ser otimista num mundo com cara de incorrigível. Os críticos dizem que “sofro de otimismo”, o que me faz parecer utópico, ingênuo, à beira da pieguice. Ousarei tentar convencê-los que não se trata de romantismo ou fé cega no futuro.
Crescemos com nossos pais e avós tecendo loas aos “velhos tempos”, tudo era melhor, valia o “fio do bigode”, não havia agrotóxicos, os filhos respeitavam os pais. Entretanto, tal argumento não resiste a uma singela observação da História. Em toda época houve avanços e retrocessos – sem medo de errar, nos tempos idos, prevalecia uma situação desvantajosa à que vivemos. Um exemplo, isolado, mas significativo: se é de se valorizar o “fio do bigode” de outrora, no sentido de que a palavra empenhada prescindia de qualquer documento, por outro lado, o próprio termo expõe o “machismo” que predominava, ou seja, relação de confiança era “coisa de homem”, daí o “bigode”.
Foi necessário idas e vindas para chegarmos até aqui: em lutas colossais o homo sapiens dominou outros seres; a carnificina entre tribos levou à habilidade de manipular objetos e criar a linguagem; confrontos sanguinários exigiram a formulação de métodos de se conviver em comunidade; tantas foram as guerras entre culturas distintas que acabaram por fazê-las interagir, umas a aperfeiçoar as outras; tira-nias impuseram certa ordem aos bárbaros para, depois, oprimir povos; colonizadores europeus espalharam terror e semearam noções de Justiça – da escravidão aos Direitos Humanos.
A vitória dos aliados na Segunda Guerra tornou inaceitável o tratamento desumano e degradante, o direito à integridade se universalizou, mais até que o direito à vida – aceita-se a pena de morte, em voga em vários países, mas não a tortura. A Guerra Fria marcou recuos (políticos) e melhorias (tecnológicas). O socialismo soviético ruiu por seus defeitos, assim como os defeitos do capitalismo ocidental produziram crises sequenciais. Sobreviveram, no campo das ideias, os acertos do capitalismo (democracia) e do socialismo (igualdade): o avanço se viu no Estado do Bem-estar Social e o retrocesso se revelou no neoliberalismo. Busca-se, agora, um modelo “híbrido”, que comporte liberdade e igualdade.
Nesse contexto é que deixo brotar meu otimismo, irrigado pela inserção do Brasil no cenário global a partir do século 21. A possibilidade da “versão brasileira de so-ciedade” influenciar a construção de uma proposta civilizatória mais justa não é uma tese minha – e tampouco é nova. Os compositores Jorge Mautner e Gilberto Gil nos relembram que, há tempos, pensadores insuspeitos vislumbravam o Brasil como berço de um novo mundo. Na música “Outros viram”, esclarecem: “O que Whalt Withman viu, Maiakowski viu, outros viram também, que a humanidade vem renascer no Brasil!”.
Além dos poetas norte-americano e russo, citam, também, o ex-presidente dos EUA Teddy Roosevelt (“celebrou nossa miscigenação como solução pro seu próprio país”), o mestre iogue e Nobel de Literatura Rabindranath Tagore (“profetizou que aqui surgiria o ser do amor, da paixão, da emoção e do eterno perdão”) e o escritor austríaco, de ascendência judaica, Stefan Zweig (“disse amém a essa luz que surgiu”).
Como se vê, não estou só; meu otimismo não é mero devaneio subjetivo e muito menos acomodação. É uma atitude revolucionária – cultivada com uma dose aceitável de esperança. Os novos velhos e bons tempos podem, finalmente, terem-se iniciados. Aqui, no nosso Brasil. É isso!
LUÍS JOSÉ BASSOLI

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