terça-feira, 8 de junho de 2010

O bom imigrante libanês

Em 1959, ainda muito garoto, comecei a aprender o ofício de cabeleireiro no Salão São Jorge, dos irmãos Osvaldo e Dirceu Romano (os Bai-xinhos).
A barbearia ficava na Rua Prudente de Morais, onde está o Shopping Kamada atualmente.
Aquele quarteirão tinha um grande movimento naquela época. O ponto das jardineiras que percorriam a zona rural ficava na Rua General Osório, ao lado do bar e pastelaria do Gibertone e em frente à sorveteria dos irmãos 40. Para o leitor ter ideia, era ali onde funcionou por muito tempo o bar e restaurante do Girotto.
Na esquina com a Visconde do Rio Branco estava localizada a Casa Kamada; do outro lado, o armazém de Cármine Tafuri; mais acima, havia a sapataria de Chiquinho Parise; e em frente, a venda do senhor Wadi Nicolau.
O bar do Dante Mencarone era bem no meio do quarteirão. Ali se encontrava tudo da melhor qualidade: queijos, salames, aliches e vinhos na-cionais e importados. Na sequência, a casa de ferragens de Totó Mantese, a livraria de Caetano Pastore e o Rei da Bota. Para finalizar, não podia deixar de falar da loja de tecidos e brinquedos do senhor José Tannus, pai do professor Gilberto. Era eu quem, todas as manhãs, ia aos Correios buscar seu jornal e os pães sírios na Padaria Central. Aos domingos, o senhor José pagava os ingressos para eu assistir às matinês no Cine São Benedito. A todos os que entravam em seu estabelecimento, ele fazia questão de oferecer alguma coisa – café, refrigerantes ou balas para as crianças. Gostava de me contar as histórias acontecidas no Líbano, país onde nasceu. Guardo muitas recordações daquele tempo, em especial a loja desse homem in-tegralmente bom, uma pessoa de uma calma fantástica e um grande coração.
ÂNGELO BARTHOLOMEU
Publicado no Nosso Jornal em 5 de junho de 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário