segunda-feira, 3 de maio de 2010

O morto inaugural

Ontem, dia 23 de abril, o cemitério de Taquaritinga completou 114 anos, evidentemente, não comemorados. Não há registro histórico a respeito de inauguração festiva, como se faz hoje com qualquer obra pública – foguetório, falação, essas coisas. Mas a necrópole foi inaugurada no melhor estilo: recebendo um defunto. E não era qualquer de cujus: era Bernardino José de Sampaio, o principal fundador da cidade, quem ia a sete palmos do chão.
Um dia antes, o bravo Bernardino morrera no lombo de um cavalo, na Rua do Sapo, hoje Hermínio Piva, quase às margens do Ribeirãozinho. Natural de Araraquara, morreu aos 65 anos. Outras considerações sobre ele: ao mesmo tempo era sobrinho, cunhado e genro dos Domingues da Silva, também fundadores do município. Por quê? Porque Bernardino se casou com a sobrinha, Francisca Olegária da Silva, filha de sua irmã, Ana Caetano de Sampaio, e de José Domingues da Silva. Portanto, Bernardino era cunhado e genro de José Domingues da Silva, genro de sua própria irmã e passou a ser sobrinho dos outros Domingues da Silva (Andrelino e Sebastião), tios de Francisca. Não é demais afirmar que Bernardino também foi tio dele mesmo. Talvez em razão da consanguinidade, o casal não deixou descendentes.
O saudoso historiador José Romanelli escreveu um artigo em que especula: é possível que tenham ocultado, na madrugada do dia 23, o sepultamento de um negro vitimado pela febre amarela para que Bernardino fosse o primeirão do cemitério. Como o prefeito Odorico Paraguaçú (Paulo Gracindo), da novela “O Bem- Amado”, o prefeito Manoel Rodrigues Estrela esperava um morto ilustre. E Bernardino era “o cara”: doara 15 dos 64 alqueires para a formação do povoado, em 1868. Em 1870, morando na Fazenda Paraguaçú, iniciou a cultura do café. Em 25 de julho de 1892, foi eleito o primeiro juiz de Paz. Em 22 de dezembro de 1892, foi eleito o primeiro presidente da Câmara. Parece coisa de Dias Gomes.
Publicado no Nosso Jornal de 24 de abril de 2010
NILTON MORSELLI

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